COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS.
A Esperança é força e luz. É a mensagem reconfortante das leituras deste domingo. Ao celebrarmos Cristo morto e ressuscitado, nós afirmamos a nossa fé. Sim!, Ele abre-nos a vida eterna e traça-nos o ca-minho que ali nos conduz. Os nossos defuntos já nos precederam na Sua casa. Não faltemos ao encontro e preparemo-nos.
Sabedoria 2,1-4a.22-23; 3,1-9 ; Sal 26, 1. 4. 7-9a.13-
14 ; Romanos 8,14-17 ; Lucas 12,35-38.40
HERDEIROS COM CRISTO (Romanos 8,14-17). Qual é a promessa feita aos humanos senão “a glória”, humanos que têm todavia os seus dias contados, uma vez que Deus “lhes determinou um tempo e um número de dias” (Ben-Sirá 17, 2)? Paulo não nega a realidade do sofrimento ligada, entre outras, à experiência da morte, mas vai bem mais além : primeiro, recordando aos seus correspondentes que não estão sós (mas “com Cristo”) ; depois, dizendo-lhes que a morte é apenas uma passagem. Temos portanto a promessa de entrarmos na herança de Deus, que, dito de outra forma, é uma promessa de incorruptilidade e de imortalidade. Este dado da fé na ressurreição está no centro da mensagem cristã. Aliás, “se nós tivermos esperança em Cristo só para esta vida, seremos os mais miseráveis dos homens” (1 Coríntios15,19). Finalmente é importante sublinhar o papel dO Espírito. Tal como presidiu à criação (Génesis 1,2), Ele preside à nova Criação. Espírito vivificante, Ele é O princípio da nossa regeneração, da transformação do nosso corpo mortal. Estamos no cerne de um paradoxo que não foi mais fácil de viver pelos primeiros cristãos do que é para nós (ver 1 Tessal. 4,13-18). É verdade que nós somos “os grandes vencedores” no sentido de que “a morte (…) não poderá separar-nos do amor de Deus que está em Jesus-Cristo nosso Senhor…” (Romanos 8,37-39), e portanto ela não nos impedirá de vivermos “com Ele para sempre”. Todavia nós somos ainda confrontados com “o aguilhão da morte”, com a dor da separação e o medo daí resultantes. Ora este medo faz que vivamos a nossa existência “numa condição de escravos” (Hebreus 2,15). Então, abramo-nos aO Espírito de vida, princípio de incorruptibilidade, que nos enxerta em Cristo e nos faz entrar na liberdade dos filhos, tornando-nos desde já participantes da vida divina. Será este Espírito que nos fará expe-rimentar que os dons de Deus – incluindo o dom da vida – são irrevogáveis (Rom. 11,29).
A CHAMA DA ESPERANÇA (Luc.12,35-38.40). O homem não foi feito para morrer. Daí sofrermos tanto com a morte de alguém próximo. Bruscamente, não sabemos mais nada do ser amado. Para onde foi? Como se sente agora? Quando iremos revê-lo? Esta expectativa após a morte é muito difícil. É necessário forçar-nos a viver apesar da au-sência, encontrar a coragem para retomar as actividades quotidianas, guardar em nós a chama da esperança ilumi-nando os outros no seu próprio desgosto… Tudo isto prova as nossas forças e, muitas vezes, a nossa fé. Sómente O Mestre é capaz de dissipar as trevas das nossas impaciências e dúvidas. Com efeito, só Ele pode reunir todos aqueles que O amam. Felizes os servos que O Mestre, à Sua chegada, encontrar vigilantes. A morte volta-nos para Deus. Mas quem espera quem, finalmente? Deus tanto é Quem esperamos como Aquele que nos espera. Um verdadeiro Pai não pode abandonar os Seus filhos. Os nossos queridos mortos são para nós a lembrança desta promessa divina. O evangelho de Lucas pretende mostrar que nada se perde no amor. A felicidade que tenhamos vivido em conjunto não se dispersa depois da morte. Pelo contrário, ela reúne-nos. Partilhamos esta esperança com os que nos precederam no caminho da vida, da qual a Igreja faz hoje memória. O dia de todos os fiés defuntos não deve ser dia de tristeza ou de lamentações. Ao irmos ao cemitério, é-nos possível contemplar o projecto de Deus para o homem : uma imensidade e uma eternidade de amor que já começou para cada um de nós.
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