Louvando a Deus pela graça episcopal de Dom Daniel e agradecendo a predilecção da sua visita acolhemos na fé a sua homilia como quem recebe um chamamento (Pe. António Figueira).
Homilia de Dom Daniel Henriques na Paróquia de Cristo Rei de Algés/Miraflores
2 de Dezembro de 2018
Senhor padre António Figueira
Senhor diácono Adelino
Queridos meninos e meninas do quarto ano da Catequese
Estimados irmãos e irmãs
1. Entramos no novo Ano Litúrgico, que se abre em tempo de Advento, preparando o coração e a vida dos fiéis para o Natal do Senhor. A simplicidade na ornamentação da igreja e o roxo dos paramentos, recordam o tom penitencial e de conversão que é caminho obrigatório numa séria preparação para as grandes festa litúrgicas. A centralidade da Palavra, que manifesta a proximidade de um Deus que nos fala e que, “nestes tempos que são os últimos, nos falou por Seu Filho” (Heb 1,2), é muito eloquentemente manifestada na escolha deste tempo para a Festa da Palavra celebrada pelos catequizandos do 4º ano. Estamos em Advento, tempo de Graça, tempo novo que Deus nos oferece, na abundância do Seu amor, nesta peregrinação para a Pátria Celeste.
2. O mundo em que vivemos também nos presenteia com os seus ciclos. Apela ao coração para poder chegar ao consumo, à carteira, ao divertimento fácil. Nestes ciclos repetitivos, caros e vazios, a criatividade surge como estratégia e ilusão de novidade. No Natal, aposta-se tudo: ele invoca o que de mais nostálgico existe em nós: a segurança e aconchego da infância, o ambiente intimista do lar, o conforto da família unida e reunida, a protecção contra o medo e a angústia. Subsiste em nós um desejo íntimo, como que uma sede ardente, de se viver o que nunca se viveu ou de regressar ao que já se perdeu. O espírito comercial, envolvido pelas suas melodias, luzes e cores, aposta tudo em tocar no mais profundo da alma humana para, depois, chegar onde pretende e à única meta a que se destina.
3. As luzes e os sons de Natal criam em nós uma ilusão de segurança, de que tudo está e para sempre estará bem, que podemos ficar tranquilos e sossegados pois nenhum mal nos sucederá. No entanto, a realidade é bem diferente e sentimo-nos frequentemente como crianças indefesas diante daquilo que não dominamos e que todos os dias nos invade como uma torrente assustadora: a doença imprevista, morte repentina, os acontecimentos violentos, catástrofes naturais ou infligidas pelo Homem, a opressão cruel que tantas pessoas sem coração são capazes de impor sobre o seu semelhante, lançando-os em sofrimentos indescritíveis, a mentira como arma de manipulação, a corrupção cínica e descarada, a incerteza cada vez mais angustiante sobre o futuro da humanidade… Mesmo para quem se pretende evadir de um pensamento mais pessimista a uma escala maior, na sua pequena escala pessoal, mais tarde ou mais cedo, a preocupação e a tristeza também lhes baterá à sua porta.
4. “Quando tudo isto começar a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. Na parte mais tenebrosa da descrição do evangelho, surge um poderoso sinal de esperança, como quando as nuvens densas e negras são penetradas por um raio do sol. Não se trata de uma mera imagem: este raio de sol é o próprio Filho do Homem, que vem com grande poder e Glória. A Esperança cristã não tem a sua origem na terra, mas desce do Alto. Não se trata de uma ilusão ou de uma mentira reconfortante, mas de uma verdade libertadora. E a verdade, que é a nossa Esperança, é que Deus vem para nos salvar. Como um pai que acorre prontamente diante dos medos e do choro do seu filho, assim Deus nos socorre e nos sustenta. O amor maternal de Deus nunca poderia permitir que sufocássemos no nosso choro e nas nossas lágrimas.
5. Deus, que nos criou para si e deixou em nós este desejo de comunhão e de plenitude que só nele se pode realizar, não nos ilude nem nos engana. Ele oferece-nos um caminho seguro e verdadeiro, onde o nosso coração pode encontrar o alimento salutar e as águas mais puras. Por isso, com toda a confiança a nossa oração, com o salmista, volta-se para o Senhor: “mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu salvador”. Se é Deus que rasga os Céus para vir ao encontro, cabe-nos a nós este “erguer e levantar a cabeça”, a que o Senhor nos desafia no Evangelho. Esta é a atitude de quem se recusa a ficar prostrado na sua mediocridade e no seu pecado. A inércia e o acomodamento, o ficar-se pelos mínimos, é talvez o nosso maior pecado de omissão. À palavra de Jesus, o cego de Jericó levantou-se de um salto e correu para o Senhor. Seja esta a nossa resposta, pronta e generosa. Somos convidados a levantar a cabeça, pois do Alto nos vem a Salvação. Não o olhar voltado para os nossos sapatos ou para o nosso umbigo, mas para Deus que vem para nos salvar. Podemos associar, retomando as palavras do Senhor no evangelho, mais duas atitudes: “vigiar e orar em todo o tempo”. Orar em todo o tempo não só é possível mas é a condição para esta atitude permanente de vigilância. Significa este confronto constante com o Senhor, agradecendo e louvando, suplicando o perdão e a protecção, pedindo a luz e a força. Nas coisas mais pequenas e aparentemente insignificantes, reportando-as ao Senhor e à sua misericórdia. Não se trata, em primeiro lugar, de interromper o que se está a fazer, mas elevar para Deus cada acção, pensamento ou sentimento. Quem assim faz permanece no Senhor, mantém-se vigilante e saberá reconhecer o Senhor que vem ao seu encontro.
6. Também São Paulo nos exorta a crescermos sempre mais numa caridade em abundância e numa santidade irrepreensível. Progredindo mais e mais. Aos gestos de partilha e solidariedade a que somos constantemente incentivados nesta quadra, saibamos alargar o nosso coração à medida do amor de Jesus para com os nossos irmãos, principalmente os últimos, com que Ele mais se identifica. A santidade crescerá, assim, na atenção aos pequenos gestos e às atitudes de amor e de serviço a Deus e aos irmãos.
7. Queridos meninos e meninas do quarto ano da Catequese.
Depois de terdes feito a primeira comunhão, a Igreja confia-vos este ano a Palavra de Deus. Jesus vem assim ao vosso encontro com este duplo alimento: a Sua Palavra e o Seu Corpo e Sangue. A Palavra de Deus é um verdadeiro alimento. Assim como a alimentação saudável nos ajuda a crescer bem, a estarmos robustos e cheios de saúde, o alimento da Palavra fortalece a nossa fé, guia os nossos caminhos e mantém-nos saudáveis contra a doença do pecado. Quem se alimenta mal, fica fraco e doente. É assim que muitos cristãos se encontram por não se nutrirem da Palavra de Deus: fracos e doentes na sua fé e nas suas atitudes e comportamentos. A paróquia este ano confia-vos a Sagrada Escritura; não porque só agora sabeis ler, que já aprendestes há mais tempo, mas porque agora sois capazes, pela fé, de distinguir a palavra de Deus de outra palavra qualquer. Como dizemos na missa, ela é “Palavra do Senhor” e palavra da “Salvação”. Como quando alguém está perdido e é conduzido a um lugar seguro por alguém que o guia, assim Deus, pela Sua Palavra, nos guia e conduz. Convido os pais, avós e catequistas que, assim com uma mãe que prepara cuidadosamente os alimentos para os seus filhos, ofereçam a Palavra na porção e nos modos que as crianças os consigam assimilar, traduzindo-a para o concreto das suas vidas. Assim se habituarão a procurar a Deus na Sua Palavra e a dela se alimentarem com alegria e gratidão.
8. Estamos em pleno Ano Missionário. Que o Bom Pastor conceda a esta nossa Paróquia a alegria e a ousadia de anunciar o Evangelho, com todas os meios e formas que o Espírito Santo vos inspirar. Enquanto houver alguém que ainda não foi tocado pelo Amor de Deus, que vive como se não fosse imensamente amado e chamado à comunhão com Ele, não podemos ficar sossegados e tranquilos. Que as famílias evangelizem as famílias, os avós os seus filhos e netos e, todos, os amigos, vizinhos e colegas de trabalho. Fazei isto com as palavras que os Espírito vos inspirar mas, acima de tudo, com o testemunho de uma vida alegre, bondosa e carregada de uma feliz Esperança que a todos interpele. Santo Tempo do Advento.
Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo…